terça-feira, 25 de maio de 2010

das distâncias;



Ainda pequena, enquanto a maior parte das  crianças se preocupava em brincar, pular e correr para todos lados, ela sentava-se ao lado do telefone público do pátio e observava.
Sentia-se protegida ali. Longe dos toque e dos olhares, que se distraíam com as brincadeiras e sorrisos. 
Gostava de estar em casa e sentir que aquele lugar era só seu.
Não falava muito, apenas o que a perguntavam; 
sempre que podia economizava nas palavras e até mesmo nos olhares.
Seus sorrisos eram escassos e suas roupas não chamavam muita atenção. 
Raramento via-se cor no seu dia-a-dia.
Assim, o tempo foi passando. Ela foi crescendo. Da menina miúda se transformou em uma moça grande e reluzente - mas sem afeições.
Jamais conseguia expressar qualquer sentimento em seus olhares ou raros sorrisos.
Aos poucos as pessoas foram compreendendo sua personalidade e se afastando, deixando-lhe respirar. Esperavam que o tempo a fizesse mais maleável!
Mas, ela mesma, não aprendeu muito sobre si ou sobre o espaço que era preciso impor entre seus desejos e seus medos.
Assim, escolheu os medos. Aumentou a distância diante de tudo e todos.
Ergueu um pequeno muro de concreto entre a razão e todos os sentimentos que se misturavam dentro de sim. E, desde então, resignava-se. Acreditava-se. Bastava-se.
Desenvolveu uma grande capacidade de descartar todos aqueles que passavam por sua vida.
Não criava laços. Não permitia que dependências fossem desenvolvidas.
Até que um dia deparou-se com um espelho e não se viu.
Encontrou apenas a imagem de uma menina miúda e sem vida.
Não foi capaz de se mover. E permanecera ali sem encontrar resposta para a pergunta que não existia. Do outro lado da ilha que é a vida. Separada da vida por todas as distâncias que sempre fizera de seu alicerce. Sozinha. 
Acompanhada apenas de todo o abandono que nutriu por aqueles que ficaram de longe.



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