quarta-feira, 14 de abril de 2010

para uma (quase) menina com uma (quase) flor /





Sentara ali por impulso.
Ninguém se atrevera mais a questionar suas atitudes havia algum tempo.
Sabiam, todos, que ela nunca fora boa em resistir aos sentimentos. Tudo o que sentia, vivia!
Naquele dia, por exemplo, sequer pensou duas vezes. Ao ver aquela flor, prestes a desabrochar, com tantos pequenos detalhes a serem admirados, assim - ainda sem definições do que seriam ao se mostrarem as cores do dia, ou a luz da lua na noite negra. Sentou-se, portanto. 
Sem Saber exatamente porque. Sem saber o que esperar... Apenas se jogou ali.
Recostou-se no velho banco vazio e, aparentemente, abandonado.
Percebia que o fluxo de pessoas, insetos, passáros e pensamentos nunca deixaram de estar por perto. 
Durante aquelas duas horas de total recolhimento, observação e ansiedade absteve-se de encarar a vida real. Permitiu-se a sensibilidade de absorvê-los sem colocar-se entre. Sem deixar que, mais uma vez, atrapalhassem o seu curso. Dessa vez, não ofoscuriam nada. Muito menos o seu encontro com a flor, a descoberta de sua origem, sem nome e seu perfume.
Claramente, via os passos em volta. Alguns mais lentos, outros mais fortes, outros nem lembravam passos - tão rápidos se passavam!
Sentia os insetos percorrerem suas pernas, mãos, braços, nariz e ouvidos; Caminhavam ali e causavam certo incômodo e, ao mesmo tempo, lembravam-na que em seu corpo ainda havia vida.
Não se cansou em minuto algum. Seus olhos não se cansavam de esperar. Espelhavam os segundos de ansiedade do seu coração. Ansiavam pelo perfume da verdade que os envolveriam em algum momento. Em poucos segundos.
Então ela se abriu. Abriu-se em frente aos seus olhos num instante longo e incompreensível.
E, pois bem: a flor não era tão bela. Apenas, mais uma flor.
Não conseguiu compreender. Onde estaria a dádiva - a surpresa. Exatamente como ela imaginara que fosse. As mesmas cores, o mesmo tamanho, as mesmas proporções... 
Gostaria tanto de ser surpreendida. Ansiou tanto para que isso acontecesse e agora estava ali, perplexa com a exatidão que a flor desenhara aquela dos seus pensamentos.
Ficara tão absorta que não teve tempo de perceber que o perfume ainda não invadira seus olhos. Sequer seu olfato, palador ou tato. Com nenhum dos seus sentidos conseguiu alcançar o perfume daquela que estava ali, a um palmo de si mesma.
Imaginara algo tão pobre de beleza, justamente esperando a grandiosidade.

Tanto gostava de se surpreender que desenhava situações para que isso acontecesse.





Não se dera conta de que era impossível acompanhar todo o crescimento de um grão que germina e floresce sem perder algum detalhe. Foi naquele dia que ela aprendeu que a vida só seria perfeita no seu interior e , que assim seria, se houvessem mil e um detalhes sendo perdidos à sua volta. Jamais seria a dona do tempo, das imagens, dos toques e do cheiro.

Ouviu uma voz dizer enquanto se despedia - sem se dirigir, sem se despedir.

- É um belo cravo!


Foi então que pensou:

- Afinal, viver é contemplar a perfeita imperfeição!









''amando-te e morrendo,
a ti, rosa impossivel,
choro o meu martírio:
tu, que mal tem alma,
não me dás teu corpo!'' (Faustino, M.)


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Gestos de amor fizeram-se
- estrelas brilham -
se desfizeram.


(Faustino, M.)

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